Oftalmologia em Notícias

“A visão vai muito além do que os olhos podem captar”

“A visão vai muito além do que os olhos podem captar”

Com uma trajetória que entrelaça Medicina, Arte e Inovação, o médico oftalmologista potiguar Francisco Irochima Pinheiro prepara-se para expor algumas de suas obras no International Salon of Contemporary Art, no Carrousel du Louvre, galeria localizada no subsolo do famoso museu parisiense, em outubro próximo. Este é mais um capítulo de sua multifacetada andança pela vida, iniciada em 03 de março de 1973, em Natal e que tem na visão um de seus primeiros e principais eixos. 

Seu pai viveu parte da vida em São Paulo e teve muito contato com a colônia japonesa da cidade, em homenagem a qual decidiu dar a seu filho o nome da cidade arrasada pela bomba atômica. Seu pai também incentivou o gosto do menino Francisco pela experimentação e pelas novidades e, em determinada tarde deu a notícia de que o avô iria ficar cego por conta de uma doença hereditária chamada glaucoma.

Jornal Oftalmológico Jota Zero – Como essa experiência te marcou?

Franciso Irochima Pinheiro Morávamos na casa do meu avô e percebíamos que ele esbarrava nas coisas e perdia constantemente o equilíbrio. Depois que meu pai falou sobre a cegueira, fui ao dicionário procurar o que significava a palavra hereditária e levei um choque. Como criança de 7 ou 8 anos que gostava de desenhar comecei a pensar em alternativas para quando a cegueira me alcançasse. Fui crescendo e a preocupação só aumentava: e meu pai, meus irmãos, meus filhos e filhas, como vão fazer? Foi aí que decidi fazer medicina.

Jota Zero – que idade tinha?

Irochima – 11 ou 12 anos. A situação financeira da família piorou drasticamente e a chance de me tornar médico se esvaía. Eu estudava no Colégio Marista, um dos melhores de Natal e era quase certo que teria que passar a frequentar a escola pública. Então, certo dia, de forma até petulante, tomei a iniciativa de falar com o diretor do colégio, o irmão Karginaldo. Contei a situação e ganhei uma bolsa de estudos da quinta série até o pré-vestibular. Continuei desenhando, continuei no colégio, passei no vestibular e no curso de medicina a situação financeira ainda era bem difícil. Não tinha condições de comprar os livros, principalmente os atlas, então comecei a desenhar meus próprios atlas, a traduzir aquilo que eu lia em imagens e os colegas começaram a ver que aquelas imagens não tinham nos atlas deles e começaram a xerocar. Eram os colegas de turma e depois os colegas de outros períodos, de outros cursos e virou um negócio. Comecei a cobrar pelos meus desenhos e a coisa começou a se profissionalizar, numa época que não tinha internet. Um fato que muito me influenciou foi que conheci a história de Frank Netter, um médico novaiorquino que, devido à crise de 29 ficou sem pacientes e passou a ilustrar livros e catálogos médicos e hoje é conhecido como o Michelângelo da Medicina. Ele criou o instituto que leva seu nome, que detém o maior acervo de ilustrações médicas do mundo.

Jota Zero – E a Oftalmologia?

Irochima – Por conta do meu avô e de minha história, foi uma escolha praticamente natural. Na especialização recebi convite para ilustrar algumas obras e, quando fui para São Paulo, a coisa se profissionalizou. Comecei a ilustrar livros de pessoas muito importantes, fechei contrato com várias editoras e comecei a ser o médico que desenha, que sabe e entende o que precisa ser desenhado. Um dos trabalhos mais marcantes foi o livro Oftalmogeriatria, de Marcela Cypel e Rubens Belfort Junior que ilustrei e que ganhou o Prêmio Jabuti de 2009 e que posteriormente foi lançado na Academia Americana de Oftalmologia Hoje faço ilustrações científicas profissionais e como também sou pesquisador e cientista, faço a ilustração de minhas pesquisas e artigos e sempre continuei desenhando. Não sei o que seria de mim sem a arte.

Jota Zero – e o salto dos livros para exposições?

Irochima - Quando veio a pandemia, passei a me utilizar da aquarela. Fiz um projeto de pintar uma aquarela por dia e a colocava no Instagram. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a acompanhar, a cobrar e a sugerir que expusesse as obras. Fiz uma exposição numa galeria em Natal e a renda foi revertida para a casa do paciente da Liga contra o Câncer, da qual sou gerente de inovação. Eram cenas do cotidiano urbano. A SOBLEC patrocinou a exposição “No meio do caminho tem gente” e, a partir daí, a Hoya me convidou para fazer 12 obras contando a história da progressão da miopia. Foi um grande desafio, porque uma coisa é fazer naturalmente, outra coisa é fazer por encomenda. A exposição teve obras que retratam desde a gravidez e a genética até a complicação que é o descolamento de retina, passando por terapia, evolução. Produzimos essas 12 aquarelas e recebemos convite para outras exposições, inclusive em outros países, como esta de outubro em Paris. A exposição sobre miopia aconteceu na Japan House, em São Paulo, e segundo estimativas da empresa, foi vista por aproximadamente 50 mil pessoas.

Jota Zero – E o glaucoma? Apareceu? 

Irochima - Diagnostiquei a doença em meu pai e em meus tios e consegui controlar sem nenhuma repercussão. Da minha parte, enfrentei e venci um câncer renal que me levou a novos caminhos.

 

Francisco Irochima Pinheiro é integrante da Comissão de Telemedicina, Tecnologia e Inovação do CBO. Sua exposição sobre Miopia recebeu o apoio do conselho e da Sociedade de Oftalmologia do Norte e Nordeste, Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia, Ophthalmos Rohto, Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea, e Refratometria, Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Sociedade Centro Oeste de Oftalmologia, Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, bem como da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo, Aliança Cultural Brasil-Japão, Federação das Associações das Províncias Japonesas no Brasil, Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, Consulado Geral do Japão em São Paulo.

Recentemente o médico divulgou um vídeo na internet sobre sua história (Transformando obstáculos em oportunidades) que pode ser acessado em https://www.youtube.com/watch?v=k7j-Tk2POyE

Informações sobre sua exposição no Carrousel du Louvre podem ser acessadas no site www.vivemosarte.com.br

 

 

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