Com objetivo de mapear e levar exame oftalmológico gratuito a aldeias isoladas, o projeto Olhos do Xingu, promovido pela Associação Médicos da Floresta, realizou este ano sua quarta expedição dedicada à população do Parque Indígena do Xingu. De acordo com o médico oftalmologista Celso Takashi Nakano, um dos fundadores da associação, a missão é contribuir para a melhoria das condições de vida e a participação social em comunidades remotas.
Durante os dez dias de expedição, a equipe de voluntários – composta por 11 profissionais, dentre eles oftalmologistas, clínicos gerais, dentistas e tecnólogos – atendeu quatro aldeias, realizando consultas clínicas, oftalmológicas e entrega de óculos, em parceria com a ONG Renovatio.“A ideia da expedição é levar atendimento para entender como são esses pacientes, que doença ocular eles têm, qual erro de refração, qual necessidade de cirurgia ocular”, afirma a doutora Mônica Alves, professora colaboradora no departamento de oftalmologia da UNICAMP que esteve presente na ação que ocorreu em fevereiro deste ano.
“Essa experiência foi incrível. Atender uma população que é totalmente diferente dessa que a gente atende aqui, entrar e aprender a cultura deles, o modo de viver, estar em um lugar que não tem energia elétrica, não tem água quente para você tomar banho. É ficar uma semana dormindo em uma barraca, mas é uma experiência que muda tudo, tudo o que você vê, o jeito que você vê a vida, o jeito que você vê o seu cotidiano”, conta a doutora Mônica.
Foram efetuadas cerca de 456 consultas oftalmológicas, com realização de exames de refração, biomicroscopia, fundo de olho e a triagem de pacientes com necessidade de cirurgia de catarata ou pterígio, além da distribuição gratuita de mais de 100 pares de óculos, com haste flexível e lentes que se encaixam na hora.
“Foi muito bonito de ver. Conversar com um índio que chega falando que não está enxergando para fazer o artesanato, ele tem 60 anos e você coloca um óculos para ele e ele lê”, relata. “É incrível você diagnosticar uma hipermetropia alta numa criança e saber que aquilo vai fazer uma diferença enorme no desenvolvimento da visão dela, o fato de você ter conseguido identificar que ela precisava usar óculos naquela idade é lindo”.
O trabalho de expedicionários não é novo e existem várias equipes que fazem trabalhos na região há muito tempo, levando outros tipos de assistência clínica e cirúrgica. Nessa expedição, por exemplo, havia dermatologistas e também dentistas, do projeto Sorriso do Xingu.
“Eles são muito carinhos, muito cuidadosos com a gente e a gente também acaba sendo muito cuidadoso, porque estamos invadindo o espaço deles”, afirma. “Então tem todo esse cuidado de chegar e conversar primeiro com o cacique, com as pessoas que tem uma influencia politica dentro daquela aldeia, pedir permissão, explicar porque a gente tá ali, a importância de levar esse atendimento para eles, de triar quem precisa de cirurgia, caso contrário eles não vão ser identificados e não vão ser tratados”.
Apesar de todo o trabalho desenvolvido, a doutora ressalta algo que, para ela, se sobressaiu à experiência. “Todo tipo de doação é importante- a doação financeira é muito necessária, mas o tempo é o que mais falta pra gente, o tempo todo. Em todo o nosso cotidiano, o que falta todo dia é tempo para dar conta de tudo que a gente precisa fazer. E o que a gente faz, o que eu fiz nessa ONG, foi doar o meu tempo para eles, 100%. O que eu podia era estar lá e só lá, atender e estar com eles, conviver com eles e levar esse atendimento”.
O projeto tem mais três expedições previstas para este ano, agora em abril, em julho e setembro e para todos que tenham interesse em se voluntariar – sendo médico ou não – o projeto e o Parque Índigena do Xingu estão de braços abertos.
Imagem de capa: Ueslei Marcelino - Reuters
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