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Número de cirurgias de catarata realizadas pelo SUS dobra desde 2009

Número de cirurgias de catarata realizadas pelo SUS dobra desde 2009

Brasileiros que sofrem de catarata – doença que afeta o cristalino (a lente) do olho, deixa a visão deficiente e até pode até levar à cegueira – estão procurando cada vez mais o Sistema Único de Saúde (SUS) para reverter esse problema. Nesta quinta-feira (8), Dia Mundial da Visão, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) divulga levantamento que mostra que o número de atendimentos para realização desse tipo de procedimento dobrou na última década.

Os dados analisados se referem à produção realizada pela rede pública entre janeiro de 2009 e dezembro de 2019. As informações referentes a 2020 ainda estão sendo avaliadas e devem alimentar outro trabalho, no qual será possível medir o impacto da pandemia de Covid-19 nos atendimentos em oftalmologia, em especial no que se refere ao tratamento de catarata.

 

CONFIRA ABAIXO O QUADRO NACIONAL (POR ESTADO)


No período analisado, o volume de procedimentos dobrou. Em 2009, foram realizadas 302 mil cirurgias de catarata na rede pública. Em 2019, esse número saltou para quase 601 mil. O aumento, de acordo com o presidente do CBO, José Beniz Neto, pode estar atrelado ao envelhecimento da população e também ao aumento da expectativa de vida no Brasil.

Para ele, o novo perfil epidemiológico exige das autoridades maior controle sobre as cirurgias realizadas pelo Brasil, além da inserção da oftalmologia na Atenção Básica – ampliando a porta de entrada para cuidados de saúde ocular –, além da consolidação da Política Nacional de Atenção em Oftalmologia (PNAO), instituída em 2008.

A Política, lançada há dez anos, trouxe hierarquização da rede de atendimento, além de avanços para a população e para a especialidade, segundo Beniz Neto. No entanto, ele aponta a necessidade de se fortalecer essa estratégia. “Hoje, a Política Nacional de Atenção em Oftalmologia deve contar com um grande diferencial: a introdução da assistência oftalmológica na atenção básica”, ressaltou.

Na avaliação do presidente do CBO, o Brasil ainda carece de programas e ações permanentes de combate à cegueira por patologias prevalentes, como a catarata. Segundo ele, “com frequência, vemos atividades pontuais e itinerantes – mutirões de cirurgia ou carretas da saúde –, que pressupõe a utilização de centros móveis de assistência à saúde”.

Beniz lembra ainda que, apesar do grande número de cirurgias realizadas a cada ano, a adoção de uma política consistente poderia beneficiar milhares de pessoas que aguardam na fila do SUS. Levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em 2017, revelou que, na época, mais de 113 mil pacientes aguardavam na fila, sendo a cirurgia de catarata o procedimento com o maior número de pessoas à espera. Esse é o dado mais recente do tamanho dessa fila disponibilizado ao público.

Indicadores – De acordo com os números analisado, em termos percentuais, os indicadores da região Sul despontam com o registro mais expressivo de cirurgias de catarata no período analisado: aumento de quase 173%, quando comparados os dados de 2009 e de 2019. Na sequência, aparecem o Sudeste, com crescimento de 135%; Nordeste (66%); Norte (55%); e Centro-Oeste (12%).

Entre os estados, Santa Catarina é o que registrou a maior alta: 430% de aumento, entre 2009 e 2019. Na segunda posição, aparece o Rio de Janeiro, onde o crescimento do número de cirurgias de catarata foi de 324%, no mesmo período. Em seguida, a Bahia, com 249%. Na contramão da tendência nacional, seis unidades da federação registraram queda na quantidade de procedimentos: Alagoas, Amapá, Ceará, Maranhão, Mato Grosso e Roraima.

Mutirões – Para José Beniz Neto, a atuação itinerante, como modalidade transitória de atendimento, deve ser a exceção e não a regra. Segundo ele, a assistência oferecida pelos mutirões não é comparável a dos centros cirúrgicos, situados em hospitais ou ambulatórios. Além disso, adverte que o foco do trabalho deve sempre estar na qualidade e na segurança dos serviços, nunca na massificação de atendimentos.

José Beniz Neto
Presidente do CBO
 

O presidente do CBO explica ainda que a demanda dos pacientes também cresceu, o que revela uma transição do perfil da população brasileira. “No passado, quem atingia a terceira idade deixava de dirigir e investia menos na leitura e no uso de aparelhos eletrônicos, como smartphones e computadores. Hoje, o que se vê é o contrário”, pontua. Em média, explica o especialista, a catarata costuma aparecer a partir dos 60 anos, mas ao longo dos últimos anos o diagnóstico tem ocorrido antes, porque as pessoas estão procurando assistência mais cedo.

Cristalino – O termo catarata é dado para qualquer tipo de perda de transparência do cristalino, lente situada atrás da íris, seja ela congênita ou adquirida, independente de causar ou não prejuízos à visão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a catarata é responsável por 48% dos casos de cegueira no mundo, acometendo principalmente a população idosa.

A causa mais comum da catarata é o envelhecimento do cristalino, que ocorre pela idade, denominada de catarata senil. Porém também pode estar associada a alterações metabólicas que ocorrem em certas doenças sistêmicas ou oculares, além do tabagismo, alcoolismo, entre outros.

O vice-presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino, afirma que o tratamento clínico (como a prescrição de óculos) tem efeito transitório e o farmacológico (com medicamentos) não possui efeito comprovado. Ele explica que a cirurgia consiste na remoção do cristalino opaco e sua substituição por uma prótese transparente (lente intraocular) para possibilitar melhor passagem dos estímulos luminosos para o interior do olho e é denominada facectomia com implante de lente intraocular.

“A cirurgia de catarata é um dos procedimentos mais realizados na oftalmologia e foi uma das técnicas cirúrgicas que mais evoluiu nas últimas décadas. Trata-se de um método microscópico de alta complexidade e muito seguro, mas que, como qualquer procedimento invasivo, não é isento de riscos”, disse Caixeta Umbelino, que completa: “a tecnologia atual e a experiência do cirurgião reduzem significativamente esse risco. Porém, é fundamental que o paciente siga as orientações pré e pós-operatórias de seu oftalmologista para evitar o surgimento de complicações”.

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