O tradicional jornal Diário de Pernambuco publicou em sua página digital, no último dia 15 de maio, uma matéria reforçando as ações do CBO para diminuir o déficit de atendimento oftalmológico com a inclusão da oftalmologia já na atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS).
Confira abaixo a matéria na íntegra:
Mais de 700 mil pessoas que perderam a visão no Brasil poderiam ter problema evitado
Conselho Brasileiro de Oftalmologia protocolou, junto ao Ministério da Saúde, documento propondo aumento da preocupação com atenção primária
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) vem reunindo esforços para começar a mudar um quadro preocupante na saúde pública nacional. Segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS); há cerca de 1,2 milhão de cegos no país. Marca que deveria ser sensivelmente menor. Com o tratamento adequado, 60% deles poderiam ter a condição evitada ou revertida.
Curiosamente, de acordo com o último censo realizado pelo CBO, o número de oftalmologistas no Brasil é mais do que suficiente para atender a demanda nacional. Há no país um médico especializado na área para cada 11.604 pessoas, enquanto a OMS preconiza um para cada 17 mil. Além disso, o conselho ressalta que os profissionais atendem em 82,7% das Regiões de Assistência à Saúde (RAS) - critério geográfico estabelecido pelo Ministério da Saúde.
Ainda assim, o atendimento aos pacientes do SUS é insuficiente, como explica o presidente do COB, Milton Ruiz. “As capitais e grandes centros têm um número de oftalmologistas muito superior ao considerado ideal. Contudo, por falta de uma entrada no sistema para um atendimento de complexidade primária, ampla, de qualidade e resolutiva — nossa população não tem acesso a saúde ocular plena”, ressaltou.
Para mudar esse quadro, os especialistas defendem que é preciso começar a mudar o foco de atuação. Atualmente, a atenção oftalmológica está concentrada no tratamento de doenças já instaladas, enquanto o conselho defende que através da prevenção, os resultados seriam bem melhores. “Seria muito mais efetivo, inclusive em termos financeiros, promover exames de médicos de refratometria, ações de prevenção dos agravos e de promoção da saúde. Assim que implantada, a estratégia não só vai reduzir a espera dos pacientes por consultas como irá desafogar a atenção secundária e terciária”, explica Ruiz.
Entre os pontos destacados no programa Mais Acesso à Saúde Ocular também estão o estímulo à instalação de centros oftalmológicos em áreas prioritárias para o SUS; a criação de uma tabela de remuneração diferenciada em localidades prioritárias; ações combinadas de estímulo à formação de residentes e estágios em áreas desassistidas; e a inserção de tecnologias para rastrear as principais causas de cegueira.
A oftalmologista e membro de comissões do CBO, Liana Ventura, explica que se as unidades básicas de saúde e escolas, onde for possível, tiverem oftalmologistas para oferecer palestras de prevenção contra a cegueira e higiene do ambiente de trabalho, organizarem triagens de avaliação de acuidade visual, fizerem pronto-atendimento para afecções oculares corriqueiras, acompanharem patologias crônicas como o glaucoma e a prevenção de outros problemas oculares relacionados com doenças sistêmicas, será possível assegurar a saúde ocular de qualidade para população, que ainda desfrutaria de serviços em níveis mais complexos de atendimento oftalmológico menos saturados e com utilização otimizada.
As propostas se baseiam em experiências bem-sucedidas realizadas de forma isolada no Brasil ou no exterior que poderiam ser incorporadas no Programa Mais Especialidades, do Governo Federal, em fase de desenvolvimento. O Ministro da Saúde, Arthur Chioro, informou que a oftalmologia estará entre as primeiras especialidades contempladas.
“Vislumbramos um caminho positivo. Já conseguimos aumentar em 30% as vagas em cursos de especialização do CBO — a maioria no centro-oeste, norte e nordeste —, promover diversos cursos de educação médica continuada a distância, entre outras ações importantes. Tudo parte de um plano estratégico de interiorização da especialidade, outrora relegada aos grandes centros”, destaca o coordenador do V Fórum Nacional de Saúde Ocular, Marcos Ávila.
Indicadores
- Além dos 1,2 milhão de cegos, outros 4 milhões de brasileiros convivem com alguma deficiência visual moderada ou grave;
- Mais de 120 milhões de pessoas, no mundo, e 14 milhões, no Brasil, têm a capacidade de enxergar severamente prejudicada em função de erros refrativos (miopia, presbiopia, astigmatismo e hipermetropia);
- Essa realidade custa ao país aproximadamente R$ 8,7 bilhões (0,16% do PIB total);
- Segundo a OMS, também em função da falta de tratamento, 700 mil crianças não enxergam. No Brasil, o número é de 33 mil;
- Estima-se que cerca de 29 mil crianças ficaram cegas por doenças que poderiam ter sido evitadas ou tratadas precocemente;
- A literatura científica afirma que a visão é responsável por até 85% do processo de aprendizado. Além disso, por volta de 20% dos episódios de baixo rendimento escolar estão relacionados a erros refrativos.
Propostas do Mais Acesso à Saúde Ocular
1. Participação do Oftalmologista no apoio à Atenção Básica
2. Programa de Oftalmologia Comunitária para atuar na atenção primária em Oftalmologia
3. Contrato SUS desburocratizado com clínicas privadas
4. Consultórios móveis para a ampliação territorial da atenção primária em Oftalmologia
5. Estímulo à instalação de Centros Oftalmológicos de Alto Fluxo, a fim de assegurar a universalização do acesso
6. Capacitação das equipes do Programa de Saúde da Família
7. Transporte sanitário
8. Estímulo à instalação de centros oftalmológicos em áreas prioritárias para o SUS
9. Caravanas da Saúde Ocular
10. Atuação Itinerante: “Mais Saúde Ocular para o Escolar”
11. Estágio para estudantes de cursos de especialização em áreas carentes
12. Residências médicas ou cursos de especialização em localidades com baixa oferta de médicos oftalmologistas
13. Estabelecer parceria entre CBO e Ministério da Saúde para elaboração de um novo censo oftalmológico
14. Plano de carreira federal para o médico oftalmologista comunitário em localidades prioritárias para o SUS
15. Benefícios financeiros para a aquisição de equipamentos aos que se fixarem em localidades prioritárias
16. Tabela diferenciada de remuneração em localidades prioritárias para o SUS
17. Financiamento por linha de cuidado para atenção oftalmológica integral
18. Apoio didático e pedagógico – ensino à distância
19. Apoio técnico e consultoria em Oftalmologia – telemedicina
20. Remuneração para profissionais que atuem em educação à distância e telemedicina
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